Cimento sustentável e as tendências da construção para 2025

07/05/2025, 10h21

Artigo escrito pelo nosso diretor global de Sustentabilidade, Relações Institucionais, Desenvolvimento de Produtos e Engenharia, Álvaro Lorenz.

Para analisar o conceito de produto sustentável, é essencial ir além das características dos produtos e soluções em si. É necessário considerar também os aspectos relacionados à cadeia de valor. Para a Votorantim Cimentos, esse tema é de extrema importância. Tanto que, dentro dos nossos Compromissos de Sustentabilidade para 2030, estabelecemos a meta de obter uma receita relevante proveniente de produtos e soluções sustentáveis. Nossa ambição é alcançar pelo menos 30% nesse indicador, e a boa notícia é que já atingimos o patamar de 45% em 2024.

Nós oferecemos diversos tipos de cimentos sustentáveis. De acordo com nossa definição interna, consideramos sustentável qualquer cimento cuja pegada de CO2 seja 30% inferior à dos produtos tradicionais. No Brasil, os cimentos das classes CPIII e CPIV são exemplos de produtos com pegada de CO2 significativamente menor em comparação aos cimentos tradicionais. Além disso, na Votorantim Cimentos, temos vários produtos da classe CPII que também apresentam uma quantidade reduzida de clínquer, material diretamente responsável pela emissão de CO2.

Quando analisamos o concreto, que é produzido a partir do cimento misturado com areia, agregados e água, também temos critérios para definir sua sustentabilidade. No Brasil, temos a marca Spectra, que representa um avanço tecnológico no setor. O Spectra é um produto sustentável desenvolvido pela Engemix, nossa unidade de concreto, que garante maior durabilidade nas estruturas, menor emissão de CO2, ganho de produtividade na obra e até 4% de economia no custo total da estrutura.

Na Votorantim Cimentos, temos desenvolvido diversos negócios adjacentes, focados na circularidade, aproveitando ao máximo os recursos naturais disponíveis. Exemplos disso são nossas unidades de negócio Verdera e Viter, que utilizam princípios de circularidade para reduzir o uso de recursos naturais e oferecer uma gama cada vez maior de produtos e serviços aos nossos clientes.

Além disso, em 2024, lançamos na Espanha a marca Blenture, que oferece soluções para construção sustentável. A demanda por produtos mais sustentáveis tem crescido significativamente em todo o mundo, e a Votorantim Cimentos continua desenvolvendo alternativas, soluções e produtos que atendam às necessidades dos clientes e contribuam para a preservação do meio ambiente, biodiversidade e sustentabilidade.

Redução do uso do clínquer

O CO2 é o principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no processo de produção de cimento. Esse processo químico envolve o uso de matérias-primas naturais, como o calcário, que ao ser transformado quimicamente (usando fontes de calor, como combustíveis fósseis), gera CO2. Dentro das nossas metas para 2030, estabelecemos um indicador relacionado ao percentual de clínquer no cimento. O clínquer, quando moído, se transforma em cimento, e quanto mais conseguirmos reduzir sua participação utilizando outros materiais suplementares, menores serão nossas emissões. Nossa ambição para 2030 é estar abaixo de 68% nesse indicador. No ano passado, alcançamos globalmente 72,5% e estamos reduzindo esse percentual ano após ano com diversas iniciativas em andamento.

O Brasil é pioneiro na agenda de descarbonização. No entanto, ser pioneiro não significa que podemos parar; precisamos continuar avançando nessa agenda, que é também uma prioridade nacional. O Brasil tem compromissos com a ONU em relação às mudanças climáticas (NDC – Contribuição Nacionalmente Determinada). Por isso, temos utilizado muitos materiais substitutos ao clínquer, como escória e cinzas volantes de usinas termoelétricas, que são alternativas tradicionais, bem como outros desenvolvimentos em andamento.

A Votorantim Cimentos também é pioneira no Brasil na utilização de argila calcinada como adição ao cimento, reduzindo o uso de clínquer. Desde a década de 1990, empregamos essa tecnologia em diversas obras, incluindo muitas barragens construídas no país. Por exemplo, as barragens na região do Rio Madeira, em Rondônia, foram feitas exclusivamente com nossos cimentos, desenvolvidos especificamente para esse tipo de obra, que exige uma quantidade reduzida de clínquer.

Além da necessidade de reduzir as emissões na indústria de cimento, observamos uma crescente demanda por produtos mais sustentáveis em diversos projetos e segmentos. Nosso compromisso com tecnologia e inovação é contínuo. Participamos de um polo de inovação tecnológica junto ao Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC) e a USP, em um fórum de inovação onde discutimos diversas iniciativas, sempre em um ambiente pré-competitivo. Junto com várias empresas e segmentos do setor de construção, buscamos alternativas para descarbonizar o setor.

Os produtos que utilizam matérias-primas alternativas ou materiais cimentícios que substituem o clínquer destacam características específicas buscadas pelos clientes, garantindo que a utilização siga a sendo desejada pelos clientes. Em linhas gerais, observamos nossa capacidade de aplicação, a expectativa de serviço e o resultado que o cliente espera. Com a tecnologia que aplicamos, asseguramos não apenas a qualidade esperada, mas também uma pegada de CO2 cada vez mais baixa. Dessa forma, é possível conciliar qualidade, gestão de expectativas dos clientes, compromisso com a descarbonização e mudanças climáticas.

Energia renovável

A utilização de energia elétrica renovável é essencial, especialmente considerando a localização privilegiada do Brasil, que possui vasta disponibilidade e potencial. A Votorantim Cimentos se destaca nesse aspecto, com a meta de aumentar cada vez mais a participação de energia renovável em suas operações. No Brasil, contamos com quatro hidrelétricas próprias em nossas fábricas, além de uma concessão para produção de energia hidrelétrica na barragem de Pedra do Cavalo, na Bahia, onde geramos 160 MW de energia. Participamos também de um consórcio na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em Machadinho, com capacidade de 1.140 MW.

Operamos um parque eólico em parceria com a Auren, outra empresa do grupo Votorantim, com um contrato de longo prazo na região do Piauí, gerando 55 MW de energia diretamente para a Votorantim Cimentos. Atualmente, estamos construindo um novo parque solar com capacidade de 100 MW, que começará a operar em janeiro do próximo ano. Esse parque, localizado na região norte de Minas Gerais, em Paracatu, contará com 770 mil placas solares. Com isso, a partir do próximo ano, 75% da energia consumida pela Votorantim Cimentos no Brasil será proveniente de fontes renováveis, fortalecendo nosso compromisso com a sustentabilidade de maneira ampla.

Ao avançarmos nesse aspecto, conquistamos uma matriz energética mais limpa, favorecendo o uso de recursos naturais como água, vento e sol, e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Nossos projetos futuros, como os de hidrogênio e captura de carbono, demandarão muita energia. Portanto, é fundamental descarbonizar de um lado sem carbonizar do outro, garantindo que ambas as iniciativas caminhem juntas.

A utilização de resíduos como combustível na produção do cimento

A utilização de resíduos como combustível alternativo na produção de cimento é uma prática essencial para a sustentabilidade. No Brasil, geramos aproximadamente 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano, o que equivale a cerca de 1 kg de lixo por pessoa por dia. Reduzir o envio desses resíduos para aterros e lixões é fundamental para ajudar o planeta. Esse é nosso compromisso como empresa, setor e indivíduos conscientes da necessidade de reduzir o desperdício.

Por meio do coprocessamento, utilizamos resíduos com potencial energético de outras indústrias em nosso processo produtivo, promovendo a economia circular. O que pode ser descartado por uma empresa ou pessoa, pode se tornar matéria-prima para nós, ajudando a reduzir o volume total de resíduos destinados. Importante destacar que, no coprocessamento, incentivamos a reciclagem (alumínio, vidro, etc.) considerando que os materiais que não podem ser reciclados podem eventualmente ser usados para substituir parte de nossa matriz de combustíveis fósseis.

Com o coprocessamento, substituímos combustíveis fósseis como carvão mineral e coque de petróleo, reduzindo as emissões de CO2 e diminuindo a quantidade de resíduos enviados para aterros. Dessa forma, fomentamos a economia circular e contribuímos para a redução das emissões.

Outro aspecto importante a ser destacado é que, ao se enviar materiais para aterros ou lixões, é gerado metano, um gás que contribui negativamente para o aquecimento global e as mudanças climáticas. Embora o CO2 seja amplamente discutido, o metano é ainda mais prejudicial, afetando a camada de ozônio de forma mais intensa. Portanto, ao utilizarmos esses materiais como fontes alternativas de combustível, reduzimos as emissões de metano, beneficiando o Brasil e o mundo.

Nossa meta para 2030 é alcançar 53% de substituição de combustíveis fósseis no Brasil, e no ano passado atingimos 34%. Com a quantidade de fábricas que temos no país, conseguimos aproveitar a disponibilidade de diversos materiais. Utilizamos cada vez mais casca de arroz, pneus inservíveis (que ajudam a prevenir doenças como a dengue), resíduos da produção agrícola, cavaco de madeira de reflorestamento e até caroço de açaí, similar ao uso de caroço de azeitona na Espanha.

Em 2024, utilizamos globalmente 1,4 milhão de toneladas de resíduos na Votorantim Cimentos. Imagine todo esse material que poderia ter sido destinado incorretamente a aterros e lixões. Ao invés disso, evitamos o uso de combustíveis fósseis, criando um cenário de ganha-ganha para a natureza.

A Votorantim Cimentos se junta a um esforço nacional e global no combate às mudanças climáticas e a necessidade de uma sociedade cada vez mais descarbonizada. Valorizamos todos que se juntam a nós nesse esforço conjunto, coroando uma das metas dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU – Parceria em Prol das Metas (ODS17).

Para saber mais sobre esse tema, confira o episódio #48 do nosso podcast Diálogos VC.