Artigo escrito por Larissa Velho, gerente técnica da Verdera, nossa unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos; Fábio Cirilo, gerente de sustentabilidade e energia; e Marcelo Monteiro, gerente-geral de descarbonização.
Hoje, 24 de julho, chegamos ao Dia da Sobrecarga da Terra, a data simbólica que representa o momento em que a humanidade já consumiu todos os recursos naturais que o planeta é capaz de regenerar ao longo do ano. A partir daqui, entramos em um déficit ambiental, utilizando mais do que a Terra pode repor.
Para reverter esse cenário, precisamos repensar nossos modelos de produção e consumo. Um dos caminhos mais relevantes é a descarbonização, que envolve a redução das emissões de gases de efeito estufa. Na Votorantim Cimentos, esse tema está no centro da nossa atuação, em uma jornada que une ciência, inovação e compromisso coletivo.
Ao longo dos últimos anos, temos trabalhado com consistência para reduzir nossas emissões de carbono. Já reduzimos 27,9% das nossas emissões globais de CO2 entre 1990 e 2024. Esses dados estão disponíveis em nosso Relatório Integrado, que convidamos todos a conhecer.
Embora ainda não exista uma tecnologia industrial viável para produzir clínquer (um dos principais componentes do cimento) com fornos totalmente elétricos, temos avançado em outras frentes. Investimos fortemente em fontes de energia renovável, como hidrelétricas, parques eólicos e solares. Também estamos substituindo combustíveis fósseis por biomassas, como caroço de açaí, cascas de trigo, arroz e outras sobras das culturas agrícolas, que têm emissão neutra de CO2.
Outro pilar importante da nossa estratégia é a redução do uso de clínquer por meio da incorporação de materiais cimentícios, como escórias e pozolanas. Também estamos explorando matérias-primas descarbonatadas, que evitam a liberação de CO2 durante o processo de produção. Essas ações somam-se ao uso crescente de energia renovável e ao coprocessamento de resíduos, formando as quatro grandes alavancas da nossa jornada de descarbonização.
O coprocessamento é uma tecnologia limpa que substitui combustíveis fósseis nos fornos de produção do cimento por outros materiais, especialmente biomassas e resíduos. Esse processo elimina resíduos de forma definitiva e reduz significativamente o consumo de combustíveis fósseis. Diferentemente da incineração, que gera cinzas que precisam de destinação final, muitas vezes classificadas como resíduos perigosos, no coprocessamento as cinzas são incorporadas à matriz do clínquer, eliminando o passivo ambiental.
Atualmente, realizamos coprocessamento em 15 unidades da Votorantim Cimentos e utilizamos combustíveis alternativos em outras três, totalizando 18 unidades no Brasil. A Verdera, nossa unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos, presta serviços para empresas em 22 estados, com presença em locais como Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal, Pará, Sergipe, Ceará e Tocantins.
A Verdera atua em diversos segmentos industriais, como agroindústria, indústria petroquímica, cosmética e alimentícia. Diferentemente do resíduo doméstico, que é coletado pelo poder público, os resíduos industriais exigem responsabilidade direta das empresas quanto à sua destinação. O coprocessamento surge como uma alternativa sustentável e eficiente para esse desafio.
Esse modelo também pode ser aplicado a outros setores da economia, como a indústria têxtil, por exemplo. Os resíduos gerados, quando mal gerenciados, podem contaminar solo e água ou gerar metano em aterros, um gás com impacto climático e na camada de ozônio muito pior que o CO2. O coprocessamento, nesse contexto, oferece uma solução eficaz para eliminar esses resíduos e evitar emissões.
Na produção de cimento, o coprocessamento também é essencial para evitar a carbonização ambiental. O clínquer, componente fundamental do cimento, é produzido a partir do aquecimento de calcário e argila a cerca de 1.450 °C. Esse processo exige grande quantidade de calor, que pode ser gerado por resíduos com poder calorífico, substituindo combustíveis fósseis e eliminando resíduos de forma definitiva.
A descarbonização também representa uma vantagem competitiva. Em países como a Espanha, o custo de uma tonelada de carbono já ultrapassou os 70 euros, podendo chegar a 100 euros. Isso significa que, num futuro próximo, o carbono será um dos principais custos de produção do cimento. Ser mais eficiente e menos emissor é, portanto, uma forma de garantir a competitividade do nosso negócio.
Gerar nossa própria energia renovável nos permite garantir o atributo de sustentabilidade e, ao mesmo tempo, assegurar competitividade, já que a energia representa um insumo relevante na composição de custos do cimento. Para empresas que não possuem geração própria, os Certificados Internacionais de Energia Renovável (I-RECs) são uma alternativa viável para lastrear o consumo de energia limpa e fomentar a expansão das fontes renováveis.
Disponibilizamos dois níveis de informação sobre nossas emissões: o primeiro, em nosso Relatório Integrado, apresenta os dados globais da Votorantim Cimentos; o segundo, mais detalhado, é voltado às construtoras e traz a pegada de carbono por produto. Fomos pioneiros na emissão das Declarações Ambientais de Produto (EPDs), que funcionam como uma espécie de “ficha nutricional” ambiental, informando emissão de CO2, consumo de água e energia, presença de conteúdo reciclado, entre outros dados.
A descarbonização também passa por inovações em nossos produtos. O concreto Spectra, da nossa unidade de negócios Engemix, é um exemplo disso. Com cerca de 20% menos CO2 por unidade em comparação com concretos convencionais de mesma resistência, ele alia sustentabilidade, produtividade e eficiência na obra. Por ser um concreto de traço único, reduz desperdícios e facilita a gestão no canteiro, contribuindo ainda mais para a redução das emissões.
Acreditamos que a descarbonização não pode ser uma responsabilidade exclusiva de governos ou grandes empresas. Cada pessoa pode contribuir com escolhas conscientes no dia a dia: reduzir desperdícios, economizar energia, optar por transportes menos poluentes e adotar hábitos mais sustentáveis. Juntos, podemos construir um futuro carbono zero. E cada passo que damos, como empresa e como indivíduos, faz a diferença.
➞ Para saber mais, confira aqui o episódio do podcast Diálogos VC sobre a jornada de descarbonização da Votorantim Cimentos.