Antirracismo nas empresas

Artigo escrito por Camila Ribeiro, nossa gerente de Atração de Talentos e Diversidade e Inclusão.

O antirracismo nas empresas deve ser encarado como uma importante estratégia para as lideranças que entendem que a diversidade pode ser um diferencial competitivo para uma organização que quer se destacar pela inovação.

Pauta potencializada a partir do movimento Black Lives Matter em 2020, o tema já faz parte do mundo do trabalho desde 1963 quando a pauta de eliminação de todo tipo de discriminação racial entra na discussão global dos primórdios do que hoje conhecemos como ESG ou ASG (Ambiental, Social e Governança).

Para abordarmos a temática, é preciso primeiro relembrarmos que o racismo é uma forma de discriminação que marginaliza indivíduos com base em sua cor ou raça. No Brasil, essa realidade está fortemente ligada à exclusão da população negra, reflexo de um passado marcado pela escravidão, perpetuando desigualdades históricas.

O antirracismo vai além da simples condenação do preconceito: exige ações proativas para eliminar essas disparidades. Não basta corrigir comportamentos pontuais, é necessário educar pessoas e transformar estruturas para garantir um ambiente verdadeiramente inclusivo. No contexto corporativo, isso significa revisar políticas internas, adaptar processos e implementar estratégias que promovam equidade racial de maneira concreta e sustentável.

O racismo afeta diretamente os processos seletivos, limitando o acesso a talentos diversos e reduzindo a representatividade dentro das empresas. Quando gestores carregam vieses discriminatórios contra profissionais negros, acabam restringindo a competitividade e a inovação, além de perderem a conexão com um mercado consumidor igualmente diverso.

Além disso, a reputação da marca está cada vez mais atrelada aos seus valores e compromissos sociais. Empresas que não se posicionam contra o racismo correm o risco de perder credibilidade perante seus clientes e parceiros. Na Votorantim Cimentos, temos uma postura clara: não admitimos nenhum tipo de preconceito ou discriminação. Mas sabemos que apenas declarar isso não é suficiente – é essencial contar com canais de denúncia eficientes e implementar ações afirmativas para garantir mudanças reais.

Na Votorantim Cimentos, adotamos vagas afirmativas e investimos na formação de nossas pessoas em práticas antirracistas. A diversidade deve ser pensada não apenas na entrada, mas também no desenvolvimento de carreira, garantindo que novos talentos tenham condições de crescer e se consolidar profissionalmente em um ambiente seguro e acolhedor.

Desde 2023, somos signatários da Coalizão Empresarial pela Equidade Racial e de Gênero. Nela, nos comprometemos junto a outros participantes a estimular a promoção da diversidade e da equidade racial e de gênero no mercado de trabalho, contribuindo, especialmente, para reverter o cenário atual de sub-representação de negros e mulheres, em especial em cargos de liderança.

A implementação de políticas antirracistas tem gerado impactos concretos na promoção da equidade e na construção de um ambiente corporativo mais inclusivo em nossa companhia. Um dos programas mais expressivos foi a mentoria para profissionais negros, inicialmente voltada para mulheres negras.

Essa iniciativa surgiu da provocação dos nossos trainees, que destacaram a necessidade de acelerar a presença de mulheres negras na liderança. Com o compromisso público de ter pelo menos 30% de mulheres em posições de liderança até 2030, a análise interna revelou que, apesar do avanço, a representatividade de mulheres negras nesses cargos ainda era limitada. O programa de mentoria foi criado como uma solução para impulsionar o crescimento profissional dessas colaboradoras, preparando-as para assumir novas responsabilidades e expandir suas trajetórias dentro da empresa.

Os resultados foram significativos: mais da metade das participantes do programa em 2022 e 2023 foram promovidas durante o período da mentoria, reforçando que ações afirmativas não se tratam de privilégios, mas sim de reconhecimento e valorização de talentos historicamente marginalizados. Essa mudança de perspectiva permite corrigir padrões excludentes que prevaleceram por séculos nos processos de recrutamento e progressão de carreira.

Mudanças essenciais para políticas antirracistas

Para que as empresas avancem na implementação de políticas antirracistas, a transformação precisa começar pela liderança. Gestores devem assumir a responsabilidade pelo aumento da proporcionalidade racial e compreender que essa não é apenas uma questão social, mas também uma vantagem competitiva.

Equipes diversas refletem melhor a base de clientes, impulsionam a inovação e enriquecem a tomada de decisão. A inclusão deve ser um compromisso coletivo, indo além dos líderes negros ou dos grupos de afinidade. É uma pauta central para todos na organização, com um papel ainda mais estratégico para aqueles que tomam decisões.

A educação desempenha um papel fundamental nesse processo. Durante anos, a história foi ensinada sob uma perspectiva eurocentrada, apagando contribuições de diferentes culturas. Para que a sociedade e as empresas avancem, é essencial desconstruir essa visão e promover conhecimento sobre o racismo estrutural. Pequenos gestos também fazem a diferença, como a escolha dos autores que lemos, os filmes que assistimos e as vozes que seguimos.

O combate ao racismo no dia a dia

O enfrentamento do racismo no ambiente corporativo exige ação constante e comprometida. Uma das atitudes mais importantes é não se omitir diante de situações discriminatórias. Quando expressões ou condutas racistas acontecem, a intervenção imediata pode ser determinante para conscientizar e corrigir comportamentos que perpetuam a exclusão.

Além da postura ativa, a denúncia é uma ferramenta essencial para assegurar que o racismo seja tratado com seriedade dentro das organizações. Na Votorantim Cimentos, contamos com canais seguros para reportar casos de preconceito, contribuindo para um ambiente mais justo e transparente. Dar visibilidade a essas ocorrências é um passo fundamental para a transformação cultural.

Mais do que mudanças institucionais, a transformação ocorre na mentalidade das pessoas. Abrir espaço para diálogos sobre diversidade, implementar ações afirmativas e fortalecer a representatividade são passos concretos para construir uma cultura organizacional genuinamente antirracista. Para avançarmos, é fundamental que todos estejam dispostos a desaprender e reaprender, ampliando suas perspectivas e contribuindo para um ambiente profissional mais justo e inclusivo.